Há uma criança chorando no mundo. Nesse exato momento, há também uma mulher sendo abusada, assassinada, violada. Existe ainda alguém que está morrendo de fome, agora mesmo pode ser o ultimo minuto de sua vida... Algum bicho está sofrendo com o plástico em suas entranhas, o mesmo plástico que eu usei e joguei enquanto vivia.
E a minha vida segue. Fragmentada, uma interdição no tempo ou um paralelo, ou uma alucinação. Não sei e não se sabe. O que quero dizer entretanto, é que uso as 24 horas que tenho para respirar sem consciência, para olhar adiante sem brilho, para não entender o que o meu vizinho diz sem pudor do outro lado dessa parede fina. Tenho usado as horas de todos os meus dias pedindo, mendigando um gesto milagroso - um milagre a ser presenciado - uma palavra de Deus, um movimentos dos Deuses, uma fala do além de mim. Eu tenho pedido, estendido as mãos, gritado em desespero pela prova cabal de que não estou aqui em vão.
Uma certeza velada, quase que um altar construido por mim a mim mesma, a verdade encravada de que há algo ou alguém que realizará o extraordinário. Eu me imagino um super personagem agonizando nas mãos de um mau escritor, esquecida no canto da mente de outra. Eu imagino e sigo suplicando.
Egoísta, como dos animais que sofreram, desfruto das árvores que foram cortadas, do ar poluído, das águas que outros tantos não têm, visto o trabalho inumamo, uso da escravidão alheia e conitnuo matando os bichos com a necessidade plástica e com as mãos estendidas, com a respiração pesada e a súplica dependurada no canto dos olhos; esperando.
Eu sou a destruição.