13 julho, 2010

OS REINOS, AS FILHAS E OS REIS

Todas nós deveríamos chorar a dor de perder-se assim tão depressa. Que intenção nos traz até aqui? Se ao menos descrevesse comigo um desenho lógico, talvez comprasse tua idéia.
Se os dedos não são capazes de tocar a pele, como podem desejar a alma de quem bebe a mesma fonte todas as vidas? Que sequência de erros Vos diverte?
Deitei na pedra, ao sol, minha alma para corar, apenas a branquidão do tempo, apagando a juventude de quem espera e envelhecendo-os como quem pune. Estou marcada.
Semelhante injustiça segue as outras mulheres do tempo que amamentam as criaças nos ônibus lotados da cidade. Feiras livres de nós mesmos, um brechó de nossas identidades, a costumização de nossas vestes.
Veste teu manto, ó Senhora livre, Senhora pura e sem mácula e deixa pra mim a sátira de estar vivo, a mancha de ter querido mais que isso que me envolve. Meu poder é menor que o que em mim vive, mas os mundos não se limitam a estar aqui, assim, perdidos nessa chita que só me diz que não sou.
Que pureza nos julga todos os dias? Que sargeta nos aquece todas as noites? E que faço eu com essas mãos que sequer tocam minha pele? Não os quero.
Não quero os homens que salivam em pé nos mesmos ônibus da cidade que cresce, alto. Não quero também os homens do bar que bebem coragem e fumam cigarros. Eu quero o próprio desejo de fumá-los, porque sou mais que isso. Sou e somos.
Quem é você todos os dias pela manhã? Por onde andas quando a noite vem? Estamos tão perto e continuo sem entender tuas mãos.
As mulheres de nossas noites, dos mantos dos dias, também dos mantos que doam sem perdão, não queremos Vossos líquidos sagrados, Vossa coragem forjada, tampouco, Vossas bocas coradas pelo hábito. Traz apenas tuas mãos e entenda que querer morrer é querer viver mais, mais que todos os outros.
Como podes ignorar tanta cor, cheiro e sangue?

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