29 agosto, 2017

Sem título

Ha muito tempo naoescrevo aqui. Na verdade, ha muito tempo nao escrevo em lugar nenhum. Eu sinto que sou assim de desaparecer; mesmo de mim mesma, eu sumo. Nao falo, não durmo, respiro lento ou acelerado de mais - depende da mentira que tenho que encenar. Outro dia, no banho, a espuma formou uma semi-concha ao redor do ralo; à medida que a água passava por ela, a espuma levantava um pouquinho ao centro e descia naquele movimento que a água faz de correnteza. Parecia uma boca engolindo a água e eu pensei: essa boca tá engolindo a mim! Essa água é como se fosse eu que se vai aos poucos por esse caminho inevitável, pois há a outra água que vem, talvezz suja, às vezes limpa,mas que vai pelo mesmo caminho; o abismo do ralo. 

É bastante cansativo viver o que eu vivo. A miha vida não é ruim. Há gente de mais sem casa, comida, sem banho, com a cara suja e pedindo um pouco de comida, um pouco do dinheiro - dinheiro dispensável à maioria, dinheiro de consumo desnecessário, prazeres exarcebados, mas um dinheiro que não é dividido com o mendigo, a mendiga, o homem velho, o homem sujo, a mulher que canta. o mesmo dinheiro que vai pra o tocador de violão celo, violino, viola, bem vestido, bem vestida ou pelo menos limpa, de cabelo limpo, de mãos limpas, pois eles não precisam desse dinheiro. Não no sentido cruel da palavra precisar. Pois, por isso: porque há vidas ruins, a minha vida não é ruim. 
Mas a pessoa cansa. Eu nunca tive um proposito real. Eu tenho sequer a glória de convencer-vos que essa vida sem sentido foi guiada até aqui pelo instinto da sobrevivencia. Sobreviver sempre foi muito fácil. 

E é que eu não tenho do que reclamar de verdade tenho uma crianca ao redor de mim, um pedaço de mim que é bonito, que é cheio de virtudes, tenho um companheiro ao meu lado que é compreenção, que é carinho e apoio. Mas, e eu? Eu pergunto quese que num desespero pra mim mesma. 
Eu tenho sempre me polido, encolhido, eu respondo a todas as minhas falas, eu descordo de grande parte de minhas ideias, eu ponho todos os impecilhos na maioria dos meus sonhos, planos, listas. Eu sento meu corpo em frente a um aparelho e fico ali por horas deixando as imagens tomarem conta do lobo frontal até que minha cabeça doa, até que meus olhos esbugalhem vermelhos e secos, até que eu precise correr ao banheiro, já que o corpo já naõ pode mais segurar a urgência de ir. onde é que está eu? 

Eu sei que soo patetica cheia de perguntas ridiculas. Cheias de respostas. Mas e eu? Eu fico aqui numa ponte de mim, esperando o momento em que posso respirar um pouco e voltar ao dormitório escuro e vazio de mim. Há muito tempo não escrevo e  quando o faço, imagino uma platéia silenciosa e aflita por recompensa por estarem ali. Eu tento, nesse cenaário honírico, agradar a todos. Invento personagens que só meu espelho conhece. Também só o espelho sabe quais partes da história de minha vida eu mudaria, e só o espelho sabe a quem eu reservo os meu rancores.  Mas o espelho em minha casa é mudo. 

Eu canso. Canso de escrever com medo. De andar com medo. De viver escondida de mim. Eu só não sei bem quem é essa pessoa, eu não a conheço. 

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