20 setembro, 2011

Tempo de chuva

Havia um tempo em que brincar de boneca era tao comum quando correr na calcada com os irmaos.
Nesse tempo, quando se podia fazer de tudo, poema era pra poucos, mas a beleza flutuava e quando a chuva caia, a beleza dancava com a gente. A gente so nao percebia.

texto sem revisao

Nunca foi de muito efeito pra mim, supirar profundamente para esquecer alguma coisa que me fizesse mal naquele momento. Mesmo quando respirar e mais dificil, quando o ar e rarefeito, quando tem alguem fumando por perto, quando ta muito quente ou apertado. Nunca me foi util mesmo quando o que mais preciso e uma novidade, mas novidade mesmo, que se preze, que mude tudo o que ta ruim la fora, que faca cair uma chuva, ou que apague o cigarro ao lado, ou, pelo menos, mude um passado indesejado.
Mas acontece que o passado, este maldito clamado, nao sai de voce assim tao facilmente, tambem nao sai se for dificil a palavra que se queira colocar - e uma mancha assim indesejada e doida, uma marca cravejada em voce...
- entende o que falo, pequena? Entende o que quero dizer? Entende que nao adianta se esconder. Tambem desejar nao e possivel. Eu e voce somos os mesmos aqui vestidos nessas roupas tao desalinhadas, amassadas, nada mais apropriadas pra o tal momento...
- olhando aqui de mim pra mim, em frente e desconcetadamente em frete uma da outra, nao ha o que recusar. Entao, devo eu, fingir que nao sei como manipular essas coisas? Entao devo eu, dizer que esqueci isso que so de mim pra mim fere? Se nao fere a mais ninguem? Se e em mim que amargura o arrependimento?
- E por que se arrepende? Se a beleza da cicatriz e a historia que se conta? E a historia que se imagina? Escreve-la tantas e tantas vezes a cada cara nova! Cicratiza-te e lembra que assim vive e assim aprende! Se nao ha outra vida, onde mais teria que cometer todos os erros aos quais ta marcada? Nunca foi feio sofrer...Por que haveria de o ser agora, porque e contigo?!E tao branca a louca que encerra teu peito de modo que nao podes pincelar o vermelho do teu proprio sangue? E a que serve tao branca louca, se tudo o que tem que fazer e deixa-la sempre branca?
-Caminha, entao, como eu caminhei por esses vales, mostra tuas cicratizes como dizes a mim e me conta o que  e que mudaria em tua caminhada... Quantos animais foi preciso cacar? Qual o medo que te lava? Nao me diga que nada, porque nao e possivel que tenha tanto a dizer a mim, sem que tenha sentido, ao menos, um pouco do que sinto.
-Por acaso confia assim que tua dor e maior? Concordo que o espinho doi no dedo e nao na flor, concordo que o amanhecer pode machucar a noite e concordo com o que disse, mas nao imagine, minha pequena, que a dor de viver e sempre maior que a outra... ela nao e...

...

Todos se levantaram e no mesmo momento em que as ultimas palavras foram postas, a reuinao se desfez, os irmaos foram embora. Havia um homem na escada, no fianl da escada, eperando. Ela passou apressada e ele, imovel, avisou que ja era hora. Havia medo na resposta e, mais uma vez, o homem informou de que nao havia mais tempo. Com os bracos erguidos, como o vento, comecou a tomar o corpo que lhe pertencia, dancou com ele como se ja nao houvesse alma, abracou o ar e era fumaca e tinha um cheiro horrivel de pena, culpa, medo e todas as porcarias que apodrecem. Abriu a boca e por ela saiu o vento, fechou os olhos achando que fosse possivel se esconder e quando acordou, tudo era tao igual que um assombro tomou conta da moca, arrepiando os pelos do corpo com despudor.

Voltou ao que sempre se voltava, trabalhou no que sempre trabalhava e caminhou pelos mesmos lugares. A vida e sempre a mesma, e o caminho e tal bonito quanto deve ser, e tristeza na medida qeu tem que ter. 

O passado era amassado embaixo da cama. O dia, como todos os outros, era tao presente e tao continuo. Todos os sonos estavam comprometidos pelas audicoes necessarias. Nao ha o que lamentar por ti, tampouco por mim, a vida sempre continua. Esquecer nao e possivel, pelo menos ate quando a noite se chega e cumpre os rituais todos para a minha passagem. Mas nao passa.

06 agosto, 2011

Pequena

Ah, que se eu soubesse desenhar, haveria uma flor bem pequena estampada no ar de um caminho longo e estreito. Seu eu soubesse desenhar, essa flor teria a textura de minha voz cantando todos os pecados que conheci para a minha felicidade. E se soubesse desenhar, nao seria necessario escrever nada desse desenho porque voces entenderiam minha alma assim, num instante. Os caminhos sao sempre desenhos da saudade, da vontade, do qualquer que seja que nos faz seguir o obscuro. Eu adoraria saber desenhar; se o soubesse, meu caminho poderia ser mais bonito, mas, pensando bem, tudo o que acho mais bonito e assim meio torto, meio borrado. As minhas coisas estao ainda espalhadas, mas eu vou vivendo porque o ar e leve e veloz e eu sou do mundo. Ou quero ser.

22 fevereiro, 2011

16 fevereiro, 2011

Obrigação

Um gato dormindo ao lado é muito mais que um gato. Nós somos muito mais que nós mesmos por conta disso. Está tudo tão interligado que não é possível separar as histórias. Todas são um mesmo pensamento seguindo as mesmas linhas vincadas pra ele. Não é possível recusar de nós aquilo tudo que passou pelos olhos ou que morreu nostalgico na imaginação. Não há um silêncio maior que esse que nos atordoa, tampouco há maior barulho que esse que nos chama.
Abandonar assim, diante de tanta exigência, aquilo que nos torna vivos, não é morrer de fato, mas é deixar de lidar com o que há de mágico e belo perdido em todos os gatos dormindo ao lado. Nem há necessidade alguma pra isso. 
Há, certamente, mágicos alados espreitando a esperança de nos por em prova em nossos próprios presentes - e são esses os desejos mais estreitos de nós mesmos. Não os anjos, não os desejos, mas o enxergar esses desejos e conversar com esses anjos. E se todo o silêncio que nos prende é aquele que nos comove, por que não abrir espaço para isso que aflinge de tal forma aterradora? Afinal, respondam-me, todos, a que viemos nesse vasto questionar-se?
A que viemos todos?

11 janeiro, 2011

linha 12 (ou filosofia de bar 1)

Viver é um pesar árduo e gratuito. Hás as coisa que fazemos e isso é pra compensar a coisa chata que é viver. E se tudo o que fazemos é em prol disso, o que há de volta que nos alimenta tanto? Tudo aquilo que nós mesmos criamos pra isso; pra alimentar o caminho sem volta de viver.
Digo que o viver é gratuito e não me julguem mal por isso, nem pensem qualquer coisa. Apenas digam o que de fato os faz vivos. E eu lhes direi sem qualquer cerimônia: isso é uma necessidade criada por você e por todos que o cercam.