20 dezembro, 2010

Darlene

Desceu a rua balançando o corpo como de costume.
Os rostos acompanhavam seu movimento, mas não era isso que prendia sua atenção aquela tarde. Nunca soube ao certo o que fazia de si tão estranha àquela gente que insistia em estranhar. Era sua rotina, porém.
Hoje, a mente trabalhava em expediente diferente. Havia um cheiro e estava embriagada.
Subiu as escadas e nem se deu conta da gata que espera a passagem  para brincar com seus tornozelos. Quando chegou, tudo estava tão normal, tão igual, que percebeu desconcertada a presença do tempo estante e pastoso.
Cumprimentou a mãe na cozinha que, mesmo sem lhe voltar o rosto, dizia que estava bem e que a amava. Isso  porque é inerente às mães amar quem quer que seja filho seu, de ventre ou não. Às mães não há espaço para escolha de nome e nota de amor. O resto da família também estava lá e seu quarto no mesmo lugar.
Acontece que à tarde, antes de seguir o caminho, beijar as mãos e respirar o tempo pesado, houve água. E posso mesmo dizer que não era água ao certo, mas que tinha o cheiro e o toque da água chuva cachoeira que se derrama feito qualquer coisa, que não sabe das convenções de pessoas que espreitam passadas sem barulho ladeira abaixo. Acontece que o tempo é tão fluido quanto água. Tempo é água de lavagem.

(Suspira.)

Nada arde como o lábio quando o controle não toca a sombra que afaga. Nada alcança o lábio inerte. Acelera, acelera, respira e corre e sofre e deseja.

Então, as tardes são curtas o suficiente para voltarem sempre e sempre. E enquanto o tempo se cristaliza na sala, enquanto as mães amam sem porquê e os pais dormem no sofá, a menina anda todos os dias pelo relógiodo desejo porque é tempo de poder.

Esquecendo-se disso, convém, porém, observar,  que os adolescentes morrem aos pés da caixa sem ao menos cojitar sua abertura. Quando acordarem, o espaço entre o agora e depois terá deixado poeira em seus ombros e não deixará, além disso, vontade.

Ah que o tempo nos causa enjôo às vezes!

3 comentários:

  1. enjoo e nojo...por vezes sao boas sensacoes, nao?

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  2. Ando muito pensando sobre o tempo. Gostei! Ah, notei que seu blog não estava entre meus links, agora está.

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  3. Vivi, sim. Aquilo que causa um certo medo ou repulsa é necessa´rio sempre e, muitas vezes, podem ser bons também.

    E moça do minutoamais, que bom que agora está!

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