Entrar por teu quarto, arrancar-te desse mundo que tanto grita. sentar em teu colo e cantar algo ao teu ouvido, querer saber de ti mesmo que pensamento anda a rondar tua cabeça quando me olhas e não olhas mais. Abraçar-te até que te vejas obrigado a apertar meu corpo contra o teu mais que o que faço quando, assim, te tiro desse estado para só, e somente só, querer um pouco da atenção que não me entregas assim de mão beijada.
Doce luta essa travada pelo silêncio que berra entre músicas, frases mal feitas e mal pronunciadas. Cadê o teu olhar que perdi. Vou encontrar ali, naquele canto, na tua sala, em teu peito o encanto que perdi. Não sei mesmo em que momento, mas meus diários agora só se preocupam em saber que dia está em tua cabeça martelando. Já não sei onde mesmo é que esse pensamento surge, se em mim e, então, em delírio vejo em tua face, ou se em ti e, em delírio, aflora em mim.
Totalmente ligada à esse querer passageiro que, qual pássaro louco, me beija e vai embora. Atravessa minha janela, senta ao meu lado, pousa em meu ombro e pousa a minha guarda, surrura aqui e vai embora.
Saibas, entretanto, que todos os dias atravesso o espaço de respeito posto, te beijo e te deito assim em meu lado, apenas contemplo-te contidamente todos os poucos minutos que em minha manhã vem para deixa-la mais colorida que essas tardes cinzentas.
Acordo, portanto, todos os dias. Deixo o bom dia, deixas também. O dia segue, e morre e amanhece todas as vezes a ponto de irritar tamanha repetição. Contradição: tanto morre, tanto nasce. Também é assim esse desejo que só se explica pela curiosidade de entender-te tão longe e perto.
Mas saibas, sol medonho de dias de inverno que se esconde tão maledicente, entro por tua casa todos os dias e arranco-te desse silêncio tão aterrorizante, canto algo em teu ouvido e obrigo-te ao abraço ainda mais apertado. E saio.
Saio sempre como se nada, nenhuma canção fosse dita, nenhum arranhão de nada em tua cizuda armadura fosse feito, como se sequer tenha encostado em ti. Gargalhando, por isso, caminho à porta da rua e vejo que vais também cada vez mais a ermo. Cada vez mais impercebível.
Ainda, um dia, arrancarei esssas roupas que esperam pela tua presença para que sequem, tiro-as dessas chuvas que sempre vêm e as ponho assim todas bem perto de tua cara estranha e branca de tão quente.E mesmo assim, invadindo tua casa, invado tua presença nessa mesma repetição que tanto irrita até que me digas, com descência, onde meteste o encanto que tinhas por mim.