Sabe? Sanidade é algo que procuramos o tempo todo. Ser normal é ser são, lógico e certeiro em tudo. É na sanidade que se realiza a maior das aberrações contra nós mesmos. É lá, justamente nesse lugar deserto e estranho onde nos negligenciamos todos os dias, podamos não a copa mas a raízes. Parece estranho querer estar são.
Agora mesmo, o meu pensamento se vai sem linhas num céu azul e sem nuvens, como num sonho, como o é. O que pesco neste momento mais leve é que a sanidade é como um freio. Não um freio de mão alucinante a sabe-se lá quantos quilômetros por hora sem aviso prévio. Mas um freio mastigante, intermitente e eterno.
Foi encucado em nós, não apenas no pensar sobre nós, que é bonito ser são.
De fato, o que penso é que adjetivaram o que há muito urge por ser verbo. Somos. Os sãos de alma, são, na verdade, doentes na cara e as ações limpas sem cheiro e harmoniosas nas extremidades não são mais que a chatice de viver assim como quem quer tudo, mas não ao mesmo tempo.
Todos os dias em que entrar no banheiro de agora em diante, e em todos os espaços, darei o direito a mim mesmo de liberdade incondicional. Minto. Liberdade condicionada ao que, em mim, constrói o que há de mim de mais estranho. E não só eu.
Que esse seja o desejo mais puro de ano novo que se possa ter.
Que tenha a liberdade de nunca ser realizado, como todos os outros desejos sãos.